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O romance vencedor do Prêmio Casa de las Américas, Um defeito de cor, da autora mineira Ana Maria Gonçalves foi divulgado como tema do enredo da Portela para o próximo Carnaval. A agremiação vai levar à avenida a saga de Kehinde, mulher negra sequestrada da África, ainda criança, e trazida para ser escravizada na Bahia. Abaixo, o trailer bem contado pelo qual a novidade foi anunciada.

Anúncio divulgado pela Portela

Mas, o que isso significa?

Primeiro, vamos entender o romance histórico da diáspora negra do Brasil que narra a vida da personagem como escravizada. Valendo-se da subjetividade que nos aproxima da personagem, conhecemos os dramas pessoais, a busca pelos filhos e a religiosidade. Logo depois, a conquista da carta de alforria que a levou de volta à África, tornando-se uma empresária bem-sucedida. A personagem foi inspirada em Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta Luís Gama e participado da Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da Abolição.

A vida íntima que aproxima

Como leitora, um dos pontos que me mais me cativou na leitura de Um defeito de cor foi o relato da subjetividade. Sim, claro, o livro é um romance histórico necessário, com relatos críveis – e doloridos. Contudo, não cai na armadilha de ser “apenas” um relato que distancia o leitor da protagonista para apegar-se à história. Ao contrário: ler as dores de uma mulher, os amores, as esperanças e os dramas pessoais a humaniza, permitindo conexão com a personagem.

Livros já inspiraram outros enredos

O livro, que ganhou uma legião de leitores e cravou sua relevância na literatura nacional, não foi o único a inspirar escolas de samba. Inclusive, a própria Portela em 2018 colocou na avenida um tema inspirado em um livro. “Caminhos cruzados: A vitoriosa saga dos judeus do Recife – da Espanha à fundação de Nova York”, do pernambucano Paulo Carneiro foi escolhida como temática. O livro retrata a trajetória de imigrantes judeus que, após serem expulsos do Recife, ajudaram a construir a cidade de Nova York.

As escolas de samba do grupo especial de São Paulo, por sua vez, tiveram a literatura infantil como inspiração em 2022. A agremiação Tom Maior mesclou reflexões acerca do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, com a realidade do sertão nordestino com o enredo O Pequeno Príncipe no Sertão. Já a Colorado do Brás contou em seu desfile a história da escritora Carolina Maria de Jesus, autora do livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”. “Carolina: A Cinderela Negra do Canindé” foi o nome do samba-enredo da autora, que também produziu obras infantis. 

Por fim, não é de hoje que o carnaval se inspira nas histórias narradas em livros. Afinal, quando se trata de arte e de criatividade, as duas expressões andam juntas trazendo os benefícios da ficção e do entretenimento às pessoas.

Categorias: Blog

2 comentários

Mariny · abril 5, 2023 às 1:43 pm

Achei a novidade ótima. O Carnaval é um festa de resistência e escolher este livro como tema só reafirma isso.

    Laura Conrado · abril 11, 2023 às 6:39 pm

    Legal, né? Beijos!

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